terça-feira, 13 de agosto de 2013

Indo dormir

Tive uma ideia!” Pensou enquanto caminhava pisando nas horas da noite que o arrastava sorrateiramente pelos prédios. Pisava nos momentos quebrados de cada uma daquelas vidas que viviam ali, dentro de suas janelas apagadas, pois não se via uma janela acesa sequer. Mas o cigarro estava aceso, incenso de mau gosto. Enquanto pisava, estalava no chão e todos podiam ouvi-lo. Mas ninguém ousava enxergar. Apenas ele. Ele enxergava e ouvia tudo. “As vantagens de ser invisível”. Ele olhou para o céu estrelado daquela noite fria, e viu as estrelas estáticas dentro do céu. Das janelas, vinha o som das pessoas que eram livres dentro de suas janelas. Livres para amar, pois, “ela só me ama bem dentro de quatro paredes”, aliás, todos se amam bem dentro de quatro paredes, e só. O amor está enclausurado. Dentro dos quartos dos apartamentos da zona sete, dentro dos carros insulfilmados no estacionamento, dentro dos livros, dentro das camisinhas. Ah! O amor! Veio de um encontro um rapaz e pediu um cigarro: “Ô fera! Me dá um cigarro?”
— Só tenho este – disse tirando o cigarro da boca.
Mentira. Havia mais um dentro de seu bolso, esperando o momento da volta. Seguiu caminhando e a cada tragada, um gosto diferente em sua boca, ao ponto que não reconhecia mais o cigarro que fumava. Pensou nela. Percebeu que tinha a vida que queria, orgulhou-se e sentiu-se invejado. E quis dormir com este sentimento. Assim, parou e se virou para o caminho de volta, já fumando seu último e omitido cigarro.
No corredor do prédio, um rapaz de gorro passou por ele. Um rapaz que foi encontrado no bate-papo UOL – ou que achou que foi – e acabara de transar com um homem bem mais velho e que saiu de cabeça baixa, sem querer ser reconhecido. Ao ver aquele cara sumindo na escuridão fez o que devia: não pensou em nada.

Já não se sentia mais invejado. Ele olhava, Ele enxergava, mas ninguém olhava, ninguém enxergava. Só Ele. Mesmo assim todos estão sempre procurando.
Pensou nela novamente e disse: Estou bem na tua frente meu amor. Longe do alcance dos teus olhos. À frente demais pra você me enxergar.
Subiu as escadas (re)visitando os momentos que pisou e pensando no trabalho do dia seguinte. 


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Há! Saudade.



Tristeza e Saudade andam juntas? 
E Felicidade e Saudade andam juntas?

Não. A Saudade anda sozinha,
e por isso mesmo é saudade.



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Aurora




  • Não tenho mais sangue correndo em minhas veias.
    Sinto a substância pastosa bege venenosa
    In nudando todos meus poros.
    Meu corpo agora é cor.
    Os orgãos falidos, inúteis se foram
    em silêncio, quietos conformados rejeitados.
    batidas secas lentas de seus passos abandonando.
    Meu corpo agora é som.
    Sou som e posso intuir sem pressentirressentir sempre.
    Não sou metade. Sou inteiro. Partícula gigantesca indivisível.
    O Amor pulveriza.
    Meu corpo agora é luz.

    terça-feira, 15 de janeiro de 2013

    Poesia Visual



    Passo rápido em câmera lenta
    velocidade reversa.
    Ainda assim o caminho é o mesmo.

    Quero dar nome: aos azuis que só eu vejo
    azul em fundo escuro
    sonoridade reverberada.

    e cada gota d'água
    que decola rumo aos cosmos.
    cada grão d'areia
    que viaja pelo vento.

    Prismas refletidos em retrô visores
    Papéis de parede da minha mente.

    Caminho mesmo em passo lento
    na velocidade rápida da câmera reversa.
    Por que só assim eu posso ter sempre
    o Ainda.