sábado, 29 de outubro de 2011

O Beija-Flor

Um Conto.





Por volta das 09:59 da manhã de um dia qualquer, estava eu sentado à mesa de um restaurante universitário de uma cidade qualquer, fazendo o desjejum antes de seguir para o trabalho. Enquanto beliscava o pão-francês (um tanto ressecado), e beijava o copo de pingado, percebi o vôo desnorteado de um pequeno pássaro que voava rente as grandes janelas.
Nas extensas mesas brancas tagarelavam estudantes de todos os cursos. Nem um deles se quer chamou minha atenção. Na minha mesa (talvez a mais vazia), somente eu e uma menina de óculos sentada de frente comigo e ligeiramente à minha direita. O silêncio era só meu.
— Tic.
Bateu o bico do beija-flor na janela. Percebi então o drama da pequena criatura. Que desesperadamente lograva a natureza pulsando lá fora.
— Tic.
A janela preferida de suas tentativas, estava a mais ou menos 10 metros de distancia de meu ponto de observação. Em seu desespero, não se impedia de tentar passar por outras janelas, ora mais próximas, ora mais distantes de mim.
Algumas vezes mesmo passou por sobre minha cabeça e foi para o meio do salão, a fim de refrescar as idéias e quem sabe, enxergar a saída. Como quando estamos muito perto de uma coisa e não vemos, mas se nos distanciarmos ampliando a visão poderemos enxergar.
Naquele céu de teto branco, não havia nuvens, ou astros brilhantes que pudessem inspirar o espírito. Só havia ele, uma mancha preta perseverante, lutando para voltar ao seu lugar. Ansiando pelo toque macio, o gosto e o cheiro suave das flores que iria beijar. Seu esforço era notável, para mim...
Naquele ambiente espaçoso e cheio de pessoas, eu era o único a fixar minha atenção no bichinho. Um ou outro olhar lhe era dado quando em suas indas e vindas passava sobre a cabeça de alguém.Talvez lhe olhassem com receio de que pudesse cair sobre seus copos ou sei lá o quê. Eu mesmo senti este medo, temendo que de tanta exaustão ele simplesmente se estatelasse sobre minha mesa, morto, sem forças, arfante, derrotado.
Isso não aconteceu. Tudo indicava que seu destino estava longe de chegar. Pensei por vezes: Não haveria modo de ajudá-lo?
Não.
Continuou se batendo, incessantemente, freneticamente. Insistiu em vão.
Refleti então sobre a condição dos homens. Quantas vezes nos batemos com a mesma janela fechada, quando logo ao lado existe uma janela escancarada com a saída para o azul do dia?
— Tic.
Em seguida, apareceu outro beija-flor, porém do lado de fora desta vez. Cada vez mais alienado do mundo, para mim, a situação tomava ares de romance.
Terminei um pão e levantei para pegar mais pingado.
Como sempre, atentei para a medida certa de leite e café, de acordo com a cor que deveria sempre ser o meio termo, porém com tendência mais ao café que para o leite. Passei pela fila do leite. Oh! Errei a medida. Voltei. Um rapaz me cedeu passagem. Corrigi. Logo vinha o açúcar, negligentemente, eu forrava o fundo do copo.
Quando de volta a minha bandeja, nada havia mudado, o beija-flor continuava lá, trançando no ar, as mesmas rotas. Ele olhava com ar de tristeza para a grande janela sem entender o porquê de não passar para o outro lado. Lá estavam os outros beija-flores, que voavam e podiam existir. Ele via. Outros pássaros também passavam, mostrando que aquele era definitivamente o lugar de onde havia vindo. Determinado, prosseguiu buscando sua liberdade.
O vidro polido era pra ele, tal como uma barreira divina, à quem alguns mortais se impõem. Sem enxergá-la, sabem de sua existência, mas não sabem como e porquê ela está ali.
— Tac!
Bateu o bico do beija-flor, com força na janela. Havia sinais de irritação. Apenas alguns centímetros mais abaixo, mais ao lado... ele teria conseguido. Teria superado o obstáculo sobrenatural, invisível, real. Meu tempo acabou. Era hora de começar meu dia de trabalho.
Fora do refeitório, no caminho, pensei se por algum momento o beija-flor, em todo o tempo que fracassou, sentiu medo, medo de morrer preso, num lugar estranho e hostil. Pensei também qual infortúnio, triste coincidência ou ironia do destino, teria levado aquela pequena criatura a tal situação.

Ainda hoje, desejo muito saber se ele conseguiu escapar, ou se está lá até agora.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Verde e Amarelo



Já não tenho mais brilho em meus olhos
Lágrimas demais, opacos a torná-los
e o verde agora é resignação!
— Se já era difícil enxergar...

Quisera eu que infinitivos bastassem
De belo e eterno somente os sonhos
Medonhos, meu poeta, são os dias reais!
— Se é tão difícil sonhar...

Pequenas coisas diriam os bons,
que a mim nunca foram.
Havemos de amarelar o presente
— O presente que se há de embrulhar...

Se todo o nada é infinito
o que dizer de tudo que é restrito
ao ato de viver e beijamar?
— De vida meu todo entregar...

Se a passagem se faz no passo
a passo curto como posso?
Um dia ainda seus lábios...
Amém. Amar é lar.
— Meu ar é você me amar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Matrimônio Perfeito



Neste Palco estou
livre, a encarar o mundo
cortejado estou
tirado de lá por um desejo profundo


há um mágico altar
que me encanta e me fascina
não tanto quanto aquele olhar
realeza que nem se imagina


Esplendida Magnitude
meu amor por ti infinito
gostaria de deixar escrito
e te encantar com meu alaúde
vou de bom grado contigo


Tú és a Morte...
e sou teu noivo maldito