quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Já que não podemos apagar certas palavras, certas atitudes que fizemos, da memória nossa ou alheia, nem da linha do tempo de quaisquer vidas, que baste o arrependimento. E que por favor: Que fique o não-dizer pelo que foi dito!

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Por mais que digamos o contrário, nunca estamos preparados para "o pior". Inversamente, estamos sempre a espreita, sempre prontos para "o melhor", esperando e continuamos a esperar, pois, "o melhor" nunca será o bastante para nós...


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Profundeza




Revolve-se em mim o fogo de um vulcão,
borbulhando o sangue de rios magníficos
embrenhados na Terra deserta de um nós:

terra inabitada terror de solidão,
mas planeta vivente de cenários priscos.
Do vulcão até um céu: natureza atroz.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sugar



À cada boca,

uma mordida
na esperança
...

em cada beijo,
o esquecer
d’uma promessa
...

em cada foto,
está a imagem
d’uma mentira
...

que se repete
em cada boca
tão docemente
em quatro anos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Espero até o último instante que seja possível esperar para que de repente passe. Mas não passa. Cá estou então. Escrevendo o que não saberia jamais explicar. Embriagado, como sempre, de um sentimento de dor. E a vida já passou diante de meus olhos, pela milésima vez. Olho para fora; alguém vivendo: uma família, uma carreira, ou duas talvez, melhor várias, uma depois da outra... O império. A decadência. O fim chega para todos.
Os olhos tentam encarar a realidade de uma vida sem Bardot, como eu posso?



Ela está deitada ao meu lado. Sem poder imaginar, como eu a idolatro neste momento de inconsciência momentânea. A beleza de suas pernas compridas e brancas chega a doer. A respiração pesada exalando álcool é como música francesa ao meu olfato. O sono entorpecido é tão pesado, os olhos dormentes estão tão fechados, que me dão a impressão de que nunca mais se abrirão, e ahhh, como morro de inveja deste momento. Tão alheia a tudo, tão intocável e impenetrável na escuridão dos sonhos mais iluminados, e ainda assim tão imponente. Será que sonha comigo?
Meus instintos pedem um assalto agora. Que lhe roube beijos, que lhe tire a lingerie que tanto me  irrita e faz para atiçar-me a imaginação. Que a deixe sem nada! Abandonada na mais pura e libertadora pobreza. Sem se quer um brinco. E que lhe roube tudo neste assalto e não exista mais nada para ela, além de mim que lhe tirou tudo. E ela me olha no sonho, e olha para os lados vazios. Eu serei a única coisa para ser olhada.
É branca a seda que lhe adorna.  Tão suave e macia quanto a pele que reveste. E brilha com a luz fraca do abajur ao lado da cama. Embaixo dele a garrafa da qual libertamos o gênio dos mil prazeres noturnos. Talvez uma última gota de poesia...
Lençóis em labirinto circulando ao redor dela. A única direção correta. E sigo então, desabando sobre sua carne, e então o corpo inerte queima ao toque. Me afasto. Ela se mexe indolente. Uma perna se despede da outra, como uma amante que soubesse que a vida será melhor estando longe do amado. Eu, terceira pessoa, fiel observador, pra não ser francês demais, aproveito a situação, consolando a perna que ficou. Me aposso de todos os espaços deixados, e subo. Vertigem de tão altos seios. Um terremoto em terras britânicas. E em seu rosto minha viagem desbravadora encontra a mais surpreendente paisagem. Quando seus olhos abriram e encontraram meus soluços me senti tragado para dentro de um abismo circundado por um lago azul, e suas águas, e minhas águas, puderam pairar tranquilamente sob o espírito de Deus.
De repente tudo não passou de um sonho. Jane Birkin não dorme mais ao meu lado.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Já não é meu corpo que se move no escuro
é apenas um autômato, perseguindo
a abstração da idéia que procuro
Eu procuro? Cego, não vejo apenas, sinto

E me guio, tateando. Escuto e sigo.
o equilíbrio abalado dos pés incertos
a vontade de chegar, e saciar-me  à vontade
e enfim saciar a vontade, semi-abertos

lábios que ofegam, engolindo o ar
o leve ar da escuridão, a inocente
acolhedora mãe do não-ciente
não preciso de luz pra trabalhar

Já não são meus estes dedos que martelam
os átomos da língua, alucinada mente
exigindo que a mensagem se apresente

estou a serviço... minha deusa me ordena,
do som de sua voz eu faço música
da palavra de sua boca; poesia amena

da forma, das curvas, da silhueta
eu desenho: rios, montanhas,
imprimo uma paisagem perfeita

me movimento na escuridão
me guio pelo som, amor cego

minha ama, me ama
minha musa... Me usa,
Me usa!

sou poeta, maldito, teu Poeta!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sete Letras




Eu escrevi seu nome no caderno,
bem discreto e tímido
uma pequena tela pr'eu admirar

Eu escrevi seu nome na parede da escola,
de maneira ilícita e vulgar
pra que talvez pudesses tu notar

Eu escrevi seu nome na rua, na avenida
nas páginas da minha vida...
com giz, com sangue
em minha pele tão ferida

Sete letras, nada mais.
Com amor? Tanto faz...
O nome que vistes tantas vezes por aí,
quero que saibas, fora eu que escrevi!


sexta-feira, 29 de junho de 2012





O Cursor piscando na minha cara ordena que eu ordene as palavras, lhe dite as letras, sentencie um mundo. Mas o que escrever quando tudo já foi escrito?  E porque escrever o que ninguém quer ler?
Vazio. A página antes vazia vai se enchendo de caracteres agrupados.  O espaço em branco, antes em branco, começa a se tingir de preto. Gotículas de tinta preta, caindo no jaleco branco.  Estou sujando meu jaleco com estas ideias tão negras. No fim, no final de tudo, a página permanece vazia. Nós permanecemos vazios. Os parques sentem falta das crianças, que já não têm razão de estar. As salas pelo ódio repudiam os alunos, elas se pudessem fugiriam apavoradas, correndo pelos corredores hostis do manicômio juvenil. O que é tudo isso? Quem se responsabiliza por esta bagunça?
Melancólica é a voz da poesia esquecida. Um fantasma orgulhoso de um tempo em que viveu. Inconveniente demais. É preciso se dar conta da morte, aceitar e lamentar o fim. Mas acima de tudo, prantear o presente. Afinal nada mais triste do que ser morto e continuar vivo. Adeus Humanidades.
Vamos ensinar o passado, pois perdemos o presente. Vamos dizer como era, pois somos incapazes de dizer como está e muito menos se algum dia será. Never ever! Eco. Apenas o eco multiplicando-se nas paredes da minha cabeça.
Ser professor é ser bom demais para qualquer outra profissão. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012





As vezes a noite me deixa ver, através da fresta de um belo sorriso, um vislumbre de que o dia será melhor, um sorriso inédito, capaz de me encher de vontade de sorrir de volta.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

II Mutirão Artístico Maringaense



Maringá, cidade bela e moderna, mas não foge de sua sina interiorana, relegada pelas autoridades no que toca a arte e cultura como forma de expressão, talvez até os próprios cidadãos não deem importância para uma arte verdadeira e descompromissada com o entretenimento da massa. 
Alheios a isso, um grupo de artistas de várias áreas resolveram se juntar e formar um mutirão para expor o trabalho que é produzido aqui, bem debaixo de nossas árvores, gestado talvez dentro de um carro em nosso transito caótico. Um evento totalmente independente sem interesses financeiros. 




Não podemos dizer que temos uma Virada Cultural, festivais internacionais, sequer bons museus. Porém, podemos aproveitar as raras e gratas (e gratuitas) oportunidades de consumir um pouco de arte e quem sabe ser consumido por ela...

Clique aqui para ver a programação completa do evento.

Nos vemos por lá!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Se eu pudesse, eu seria um poeta


Eu seria um poeta
se eu pudesse compreender
a mente dos Rosas, Cruzes e dos Campos
se eu conhecesse a Pessoa
Qu’escreveu a Mensagem por trás da mensagem

Eu seria um poeta
se eu pudesse possuir a Clarice de um dia de sol
se eu pudesse engolir os Azevedos de uma noite onírica,
conhecer o Bandeira de cada país
Eu também seria um poeta (não importa de qual tamanho)

Se eu encontrasse a Bela Flor Espancada
Lhe diria que a amo e seria um poeta.
se eu pudesse escrever a decomposição dos Anjos,
se eu pudesse apartar Caminhas e Camões
talvez, e só talvez eu seria um poeta.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Escreva escravo!


Minha mente é tão doente
de doces males padecen-
Teos ouros, meus tão aúreos
decende deus do verbo
ascende no complacente
amanhã de minha mente
de mentira, indecente

Minha mente é tão doente
culpa decente do peso
do dom do ver Betel
sinto subindo súbita
pois aquele que crê sente
com a luz matinal nascente
sou escravo escrevente

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Projeto Tereza

O poema abaixo postado: Maringá! Maringá! foi postado primeiramente no site  http://projetotereza.com/

Recomendo a todos que visitem o site regularmente, pois tem sido um ótimo veículo de informação e fomentação cultural e artística, com diversas publicações interessantes, nas mais variadas áreas. Sem dúvida, configura-se uma ótima iniciativa na cidade canção, tão carente de gente que valorize a verdadeira arte.



Maringá! Maringá!

I

Não há de ser em vão
o esforço febril deste artesão
do metro vir canção
p'ra poder cantar sua inspiração

Planejo, como tu fostes um dia
sem pretensão, de pompas fugidia
nascida em discreta alegria
planejo cantar sua harmonia

Entre raças, planície da paz
É Maringá! E como tu não Há!
Mestra precoce do país serás.

Discreta parnasiana concreta
sob a sombra segura de suas árvores
cresço feliz, criado em seus parques

 II

Ainda que longe do céu e dos céus
obstinada vence Maringá!
vemos por ela o porvir sem véus
brilha a estrela que norteia o Paraná!

E toda a gente, que segue esse brilho
segue contente, e grita o estribilho:
É Maringá! E como tu não há!
É Maringá! E como tu não há! 

Ah! E a gente que é este povo
É tão formosa e de bela forma,
filha do Sol e do centro mundo, novo

rosto nascido que agrada à gosto
gente maringaense, Cidade Maringá
permita-me cantar: que como tu não há!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Epílogo




Eu sei, sei que você já não quer mais, sei que você não ama mais, nem tão pouco nutre qualquer sentimento que seja bom por e para mim. Sei também que preferias não ler isto, preferias não saber, preferias não... Quantas negações em tão curto tempo, neste espaço branco. O branco em que autores escrevem suas obras e nós escrevemos nossa história. O branco que por vezes representou a paz, ou o branco que nos traz o esquecimento. O esquecimento que por vezes é tão maligno, mas que ainda assim tem sua recomendação médica. Um médico que cura a dor, daquilo que é a maior ocorrência da vida humana e o humano que se difere do animal, por sentir esta dor. O sentir não compreende nada. E nada é o que tenho agora. E por acaso já não tenho agora.  Pois meu tempo se passou com você.
E o computador segue assim, tentando tirar algum proveito disso, seguindo seu papel de narr-a-dor,  aliment-a-dor, registr-a-dor e quiçá! Salv-a-dor!!
A hora é de pranto, de espanto, de esperanto, e de pranto. Eu não tenho agora, mas tenho ainda esta hora, a ser vivida, por mais sofrível (que ainda é nossa). É o pouco que resta de nós dois. Me apegarei a ela, como se fosse aquele pedaço de mim que faz tanta falta (aquele que está contigo).  Me apagarei, até que deste eu não haja mais traços. Realizando assim seu último desejo. Pois só assim... Só assim poderás ter a certeza de nunca mais me ver diante de ti. 
Não tenho pena de mim mesmo por você ter pena de mim. Não há nada do quê se envergonhar em amar, lutar, lutar, lutar, lutar, lutar, lutar, e não chegar.  Uma tragédia não respeita nem mesmo um céu de baunilha. Não há por que esconder o rosto marcado de cicatrizes. Cada marca, uma batalha. Cada batalha uma paixão e a cada paixão um morrer. Pois a paixão é entrega, e a entrega rendição,  e a rendição é a morte.
Este é um adeus.
À Deus que está nas alturas se roga, que ampare os caídos em batalha. À Deus eu rogo...
- Me segure em seus braços não me solte nunca mais eu te amo